sexta-feira, 20 de agosto de 2010

NO TEMPO DOS AMORES DESCARTAVEIS…

O André era o grande amor da minha vida. E eu vivia no tempo dos amores descartáveis e tinha 16 anos e tinha, portanto, uma grande bota para descalçar…O choque e o horror das minhas colegas de escola mostrava-me claramente isso: é perfeitamente contra-natura amar apenas um homem até ao fim dos meus dias. Realmente não me lembro de um tempo em que isso fosse verdade, no tempo dos meus pais isso não acontecia, no dos meus avós também já não, no dos bisavós talvez…não sei porque, como é óbvio, não me lembro e não estava lá para ver. Mas às vezes sonho com um tempo em que o meu amor incondicional tivesse sido possível…Sei que posso parecer maluca, mas é verdade.

A Lina e a Suzete diziam que eu devia experimentar o Pedro, que estava interessado em mim e que, aliás, era amigo do André, e isso ajudaria a erradicar de vez esta coisa incómoda de dentro de mim. Se eu andasse com um amigo do André, diziam elas, eles não me quereriam partilhar. Mas eu não queria experimentar o Pedro, nem o João, nem o Zé da esquina…A verdade é que eu só queria o André, por muito que me envergonhasse dizê-lo…

É claro que eu não podia desabafar com ninguém da minha família. Eles iam achar que eu estava doida…O meu pai já me tinha avisado de todas as raparigas que se perdem com essa história do Amor…Disse que é natural as pessoas estarem com toda a gente que puderem, que não pode ser de outra maneira…A minha mãe, essa, ia dizer que eu ainda sou uma criança, que não sei nada da vida, que vou chegar a essa conclusão quando for tempo…Mas eu não me importava. Eu amava o André e sabia que podia fazê-lo querer-me só a mim. Propus-me começar a minha Demanda e tinha a certeza que podia passar por cima da mentalidade dos outros. Primeiro, calada. Não é fácil reconhecer a diferença.

Eu sabia que o André queria andar comigo, mas eu não queria enquanto ele não soubesse que me queria só a mim…Eu recusava-me…Ele um dia disse-me: “Olha, Bea, sabes que eu e a Joana saímos mas não há problema, não me importo de sair também contigo. Aliás, a Joana diz que és fixe e que podíamos ir ao cinema os três…”E aquilo revoltou-me… Apeteceu-me pregar-lhe um estalo…Cheguei a casa a chorar e a minha mãe riu-se de mim…”Tolinha romântica”…disse. “Só te metes em problemas”.

Eu não conseguia perceber porque não podia ter alguém que se importasse só comigo…Que me ligasse à noite a perguntar se o dia me tinha corrido bem, que aparecesse em casa para me ver quando eu estivesse doente, que adormecesse a pensar no meu sorriso…Sentia-me confusa por querer uma coisa que ninguém quer, que ninguém pode ter…Porque é que eu não podia ser como os outros?

Eu disse não ao André e no dia seguinte a Joana riu-se de mim. Ela saía com o André e com muitos outros rapazes. Era uma rapariga normal, como toda a gente me dizia que eu devia ser…Eu não queria ser como ela. Gostava de ser como eu. Por um lado eu gostava de ser especial.

(...)continua...

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