quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O que são estes laços que me prendem a ti?
Estas amarras invisíveis que me abraçam...

Foram um dia pedaços de nada, foram
Hoje perco-me sem ti...

Se a estrada é longa e a vida é dura
e cruel e aquilo que eu pensava existir já não existe

És tu

És tu

O meu fio de prumo.
A minha estrada deserta.

O que são estes laços que me prendem a ti?

O que é que dizias se eu dissesse que eram amor?...

domingo, 16 de novembro de 2008

Lugares

Há lugares no mundo onde nunca estivemos. Tantos...Mas às vezes, esses lugares, distantes, parecem-nos familiares...Por alguma razão que não sabemos definir...É como se alguma coisa muito forte se apoderasse de nós ao pensar nesses lugares...Como se algum dia, numa outra vida, estivessemos ali...Talvez...Talvez...Talvez já tivessemos sentido essa brisa, esse cheiro de fim de Verão, essa nostalgia que nos invade sem nunca a termos presenciado...Isso que nos faz chorar sem nem bem saber porquê...O que eu sei é que, ao pensar nesses lugares, nos teleportamos para lá, como se o nosso lugar fosse ali...Porque não sabemos o nosso lugar no mundo...Ainda não o descobrimos...Porque é que deixamos de o procurar, será essa a pergunta?...Não sei. Não sei. E o que eu não sei é demasiado. E a pessoa que eu já fui, parece-me que anda um pouco perdida...Não totalmente...Está sossegada...A dormir...À espera do momento de acordar...Hoje o meu lugar é aqui. Amanhã não sei. O meu lugar é onde eu quiser estar. Cada momento é um momento...Não sei. Não sei. E isso é o que torna a vida tão maravilhosa:)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tinha uma palavra que merecia ser contada. Eu pensava. Achava que essa palavra poderia mudar o mundo. Naquele momento mudava...Essa palavra ficava presa na garganta, encarcerada...Como arranjar maneira de a contar? Quando tantas pessoas no mundo acreditam terem alguma coisa a dizer, como fazer a diferença, como superá-las? Não sei...Eu tinha só esta palavra. E tinha-me a mim. E as minhas mãos faziam toda a diferença em alguns momentos. E esta palavra já não ficava presa mas pairava sobre mim, como algo que de mim saiu, que se deu, que voou para fora de mim, que cresceu...E a minha palavra fez alguma diferença no mundo. E a minha palavra fez a diferença no mundo de alguém..

(Hoje sinto que fiz a diferença. aquilo que nos relacionamos com os outros que não nos conhecem também diz muito de nós. uma palavra às vezes faz todo o sentido. hoje sinto que com as minhas palavras ajudei alguém e isso chega para me fazer feliz:))

sábado, 25 de outubro de 2008

Hoje em dia as pessoas não se esforçam. Pensam que é bom ter alguém enquanto dura mas realmente não pensam nessa pessoa como alguém especial, não se preocupam em aperceber-se de que isso talvez seja amor, só sentem falta no momento em que perdem...E isso é triste...Porque as relações já crescem baseadas na premissa de que um dia vão acabar...E eu sou como toda a gente, egocêntrica, e sei que é fácil viver sozinha, eu até gosto de viver sozinha. Mas ao mesmo tempo, sei que é possível estar com alguém e amar essa pessoa e fazer com que resulte apesar das adversidades...Mas talvez só a saudade nos mostre realmente o que queremos. E talvez eu não vá ser especial até sentirem a minha falta. Talvez seja isso que me falta...Voar...Como sempre fiz, como sempre fui...Eu sei quem sou. E sou muito mais do que imaginam. E dessa pessoa que eu vejo no espelho, eu gosto. E sei que vale a pena arriscar tudo por mim...Sei que valho a pena:) E apesar de às vezes ter medo de poder ter mudado, sei que não. Sei que nos momentos certos vou fazer as escolhas correctas. Vou conseguir ser feliz. E não vou ter de perder aquela menina que sempre fui. Sim. Não vale a pena fazerem-me discursos sobre aquilo que já aprenderam, sobre aquilo que os outros já sabem, eu não sei, não fiz...E tudo o que eu fizer, todas as minhas escolhas, vão ser só responsabilidade minha! E não me vou arrepender. Cada coisa a seu tempo, a vida vai-se revelando. E eu vou-me revelando:) E cada vez me conheço melhor. E sei as minhas metas, os meus objectivos, e o que não sabem é que eles ainda estão aqui, dentro de mim, a bater como um coração, cheios de vida. E um dia vão saber. Sou mais do que aquilo que pareço...E ainda bem:)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Escondida a vida corre
Cada passo que dás me parece a eternidade
Cada passo que dás. Será que me escondes a verdade?
Sei o que dizes…
Eu sei…

A torneira está seca
E o cano está roto e nem importa
E ainda me dizes que sou fascinante
Sim, o que dizes
Eu sei

Deixa-me só descansar um bocadinho
Depois do tempo vou saber ouvir-te
Depois da novela e na escuridão

Os teus olhos habituados à sombra
O soalho ligeiro e quebradiço
A tua presença e o lava-louça
Partes um prato
E eu…

Aqui sentada na poltrona, à espera
Tu e eu com tanto pra dizer
Quando vier a noite ficamos aqui
Sozinhos
Falamos

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sinceramente, há dias em que parece que o Universo nos ama. Nessas alturas em que pensamos que estamos mal mas os pequenos sinais que o mundo nos dá nos dizem "acredita". Esses tantos sinais, encadeados de maneira ilógica e incoincidente, todos a dizer "acredita". E o nosso sorriso, que pensavamos estar tão distante já, diz ao espelho "acredita". E então parece que a felicidade cá dentro quer explodir. Porque acreditamos. E sabemos que dentro de nós está algo para dar, para partilhar, somos alguém neste mundo louco e, por vezes, desfigurado. "Acredita". "Acredita"...E somos maiores que a vida. Queremos engolir o mundo todo, queremos compreendê-lo, queremos voá-lo, sonhá-lo, queremos correr...Correr para o infinito que não conhecemos. Correr para o horizonte longínquo e familiar, companheiro de tantos fins-de-tarde sonhadores...Cor-de-rosa...Roxo...Azul a esmorecer. O Sol, não a fugir, mas a correr. O sol e a lua que nos sorriem, conhecedores. Tantos dias a pensar que este só dia chegaria. Tantos fins-de-tarde para chegar aqui. O mesmo sol e a mesma lua. E o mesmo dentro de ti. "Acredita". E acreditaste. E por isso mereceste os sinais. Se a felicidade é isto, então tu és feliz. "Acredita" naquilo que o mundo te diz.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Aquilo que eu sei

Cresci. E aquilo que eu sei é aquilo que eu sou. Avancei no tempo e não me perdi. Por vezes recolhi as asas mas não as despi, e voei quando quis. E ainda acredito naquilo que me dizem as vozes. Distantes, errantes, por vezes importantes para mim. Elas dizem-me para subir acima da minha própria vontade. Elas dizem-me "tu podes" e às vezes sei que é verdade. É aquilo que eu sei. Aquilo que eu faço nos momentos que passo comigo. Quando olho para dentro da minha consciência eu vejo os meus desejos, os meus medos, as minhas sombras e o meu encanto. Por muito que eu diga que não, que eu pense que não, que às vezes insista em procurar um chão...Aquilo que eu sei é aquilo que eu sou. Eu sei. Por isso não desisto de mim.

sábado, 20 de setembro de 2008

Chuva

Às vezes é difícil aceitar que não temos palavras que possam mudar o mundo. Mas há dias assim. Dias em que o deserto em que nos tornámos nos seca por dentro, dias em que a sombra pesada desses dias em que não somos ninguém nos esmaga em vez de nos abrigar. E nesses dias sofremos. Mas o que é, afinal, o sofrimento de não ser? É apenas a saudade que fica de já ter sido, de já termos tido, de já termos dado...O que fica de nós é o tempo que damos. E o tempo foge. Não sobra nada...Perseguimo-nos ainda, pensando que voltaremos ao que fomos, mas não somos, já não somos, e o que éramos já se perdeu. Deixei-me de nostalgias. Se aceitar que em mim já não há nada, talvez arranje lugar para que alguma coisa nova possa crescer. É assim. Às vezes é difícil aceitar que não temos palavras que possam mudar o mundo. Nesses dias, sentamo-nos à janela e vemos a chuva cair. A chuva lava e purifica. Por dentro eu não sou nada. Sou portanto uma nova folha de papel em que posso escrever. Já não sou o tempo que já não tenho. Por dentro, renasço. Deixo-me de nostalgias. Não posso mudar o mundo mas posso mudar-me a mim.

domingo, 10 de agosto de 2008

Qual é o preço da felicidade?...Ás vezes parece que é a solidão...

domingo, 27 de julho de 2008

Amigo

Passei a vida à procura de um amigo. Acordava de manhã e pensava no sol e ele não brilhava só por mim. E no caminho as flores não nasciam por mim. E pensei que um bom amigo era difícil de encontrar.

Descia o caminho à procura de um amigo. E em cada casa havia luzes e não estavam acesas para mim. E a música que ouvia não era feita para mim. E pensei que um bom amigo era difícil de encontrar.

Passei a vida à procura de um amigo. Olhava pela janela e as nuvens cinzentas não choravam por mim. E os olhos que me olhavam tinham pena de mim. E pensei que um bom amigo era difícil de encontrar.

Sozinho...

Olhei para o espelho e reparei que o reflexo olhava para mim. E a imagem reflectida quase sorria para mim. Afinal, amigo, sempre estiveste aqui...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Inside, there´s this aching heart inside, maybe urging me to write, maybe trying to make me mad



I´ve seen so many spaces inside this empty drawer, I´ve come to realize that nothing means more than yourself



And you yell

Cause your causes are long now forgotten

The many reasons you had are now broken

And still you want to believe



It´s shallow. The happiness inside is so shallow...Maybe you could try to make amends



Ans I´m tired, but somehow my bones need the motion to carry on



And I yell

Cause after all my causes are long forgotten

And the many reasons I had are now broken

But I need to believe

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Personagens VI

A noite estava escura. Escura e azulada como um dos filmes do Tim Burton. Quando saí de casa não sabia bem para onde ia. Ia. Porque me apetecia andar. Porque estava chateado com a vida e com a minha namorada. Ia em direcção ao nada que eu tinha lá fora. E ela sabia. E deixou-me ir…
Não planeava voltar. Mas voltaria porque não tinha mais nenhum sítio no mundo a que chamar meu. Nem mãe, nem pai, nem cão…Tinha uma namorada que me traiu. Mais nada. Devem estar a pensar que realmente não sou um tipo com sorte…Têm razão.
Enquanto vagueava pelas ruas cinzentas e vazias não pensava em nada. No fundo o facto de ter sido traído não tinha sido uma surpresa para mim. Ela era como eu. Não era flor que se cheire. Eu não a podia culpar. O que eu gostava é que me tivesse dito. Mas não. Limitou-se a dizer “foi só sexo, qual é a importância?”…E eu com cara de parvo a olhar para ela em cima da minha cama com outro gajo, os dois pedrados…Ela nem se dignou a ter medo da minha reacção. Não. Mandou-o embora e ele foi. Deu mais uma passa no charro e foi e ela continuou ali, à minha frente, nua e de pernas cruzadas, a fumar. Perguntou-me se queria uma passa e bem me apeteceu mas senti-me melindrado e zonzo. Saí.
Não é que estivesse a pensar casar com ela mas passei-me. Ainda por cima ela disse-me que só foi para a cama com ele pela droga. Até eu tenho princípios e sou escumalha.
Ok, meu. O que é que te falta para ser feliz?
Pensei. Realmente gajos como eu não merecem nada. Já fiz muita porcaria por aí. Já traí também. Mas agora não. Na verdade as minhas prioridades estão um pouco confusas.
Boa ou má ela sustentava-me. E ao vício. E sem ela eu não tinha nada. Teria de voltar. Se a noite azulada não me tivesse feito perder no meio da escuridão…
Deitei-me no canto da rua. Senti um bafo qualquer ao pé do meu ouvido mas eu já estava do outro lado…Cansei-me de andar, não sei. Cansei-me e perdi-me e deitei-me e depois não sei. Não me lembro…Nem me lembro de me levantar. Porque a noite azulada desapareceu sem deixar rasto e deixou-me uma dor de cabeça e o cheiro nauseabundo de um sem abrigo ao meu lado.
Fogo, o que é que aconteceu? Parece que levei com um martelo na cabeça. De volta ao caminho as pessoas olham para mim como se eu fosse um extra-terrestre. Olho para o espelho e vejo que está lá a figura normal. Um traste…É natural. Estou todo queimado. Vou para casa. De volta para a namorada infiel. Para o vício. É inevitável. É tudo o que eu tenho. E mais a ressaca…

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Eu tinha umas mãos que me deram
Deixava os laços galopantes tomarem conta de mim
Até que um dia me perguntei
Porque é que a vida me fazia assim

E afinal não era eu que criava
Apesar de tudo eu até não me dava
E estas mão só faziam diferença em mim

Ridicularizava todas as coisas que me eram estranhas
pensava que o tempo me traria as façanhas
que precisava para crescer

E então sabia que cada sonho só durava um dia
Porque instintivamente eu sabia
Que me faltava acreditar em mim

Acreditem, às vezes não é fácil ser quem somos
E acabamos por ser quem fazem de nós

Quando pensava em cada momento em que eu existia
Queria ser de repente diferente
Queria saber tomar conta de mim

E os laços breves que então me prendiam
Eram as horas que os outros não viam
As minhas horas de solidão

Se eu soubesse

Se eu quisesse as palavras acertavam-se quase sem querer
Se eu quisesse a cor dos meus dias seria garrida
Se eu pedisse o ar que está cá dentro
Serviria para me fazer voar
E eu não quero

Se eu sonhasse alguns sonhos profundos seriam projectos
Que sem pressas eu saberia sempre sonhar
Se eu pudesse arrancar
De dentro de mim esta fome
Mas não posso

Chamam-me frágil,
Chamam-me tonta
Aquilo que eu sei não me tiram

Se eu soubesse
Tudo o que havia para saber
Era Deus

Onde tu estavas construíram uma auto-estrada

Voaste
Deixaste-me andar e pousaste
E eu nunca cheguei a saber para onde foste
E a tua ausência abriu fendas em mim

Eu avancei
Sem saber bem para onde ia, cheguei
Ca dentro o vazio deixou-me tonta e eu deixei
E as tuas lágrimas fizeram-se ilhas em mim

Eu sei que o tempo não volta atrás
Onde tu estavas construíram uma auto-estrada
Ainda me custa pensar que me fazes falta
E que agora és nada

Bridge: E afinal, o que é que eu sei?
Se eu admitir que errei
Será que alguém me vai ouvir?

Disseste
Que os dias mudam e o que fica é a sombra
Que está cá sempre deslocada e redonda
Como uma peça desprendida de mim

Eu vi-te
Nos espaços todos em que te quiseste esconder
Apesar de tudo sempre quiseste ficar
Nesta memória enterrada no fundo de mim

Eu sei que o tempo não volta atrás
Onde tu estavas construíram uma auto-estrada
Ainda me custa pensar que me fazes falta
E agora és nada

sábado, 26 de abril de 2008

Personagens IV

Pai, quando eu era pequena o que é que achavas que eu ia ser quando crescesse?”
“Gostava que fosses médica, acho eu.”
“Não, pai, o que é que tu ACHAVAS que eu ia ser?”
“Não sei. Talvez escritora. Sempre tiveste jeito com as palavras.”
E assim terminou a última conversa que tive com o meu pai. Ele a morrer por fora com um cancro terminal e eu a morrer por dentro, à beira de uma depressão, com a desconstrução de um amor de 15 anos. Depois disto ele fechou os olhos e adormeceu. Fiquei ali a olhar para ele, palidamente rosado, como um bebé grande.
“Adoro-te, pai…”Disse em jeito de murmúrio. E saí.
À noite, já deitada, ia-me lembrando das imensas conversas que tivemos, eu e o meu pai. Ia-me rindo sozinha só de me lembrar das coisas que ele dizia. Quando me doíam os ossos da magreza extrema a que os últimos tempos me tinham exposto, parava de me rir um pouco e chorava. Depois voltava a rir-me com o meu pai.
Na manhã seguinte, ligaram do hospital. “O seu pai morreu”, disseram.
Para dizer a verdade, naquele momento não me caiu o mundo em cima, como toda a gente tem a mania de dizer. Desconfio que se caísse me esmagava os ossos. Na verdade, só por volta do meio-dia é que me dei conta de que perdera a única pessoa que me amara na vida. Sim, penso que foi por volta dessa hora, mais ou menos. Desatei aos berros e fui para a cozinha partir pratos. Sim, nesse dia fui cliché, já que nos filmes se define mulheres irritadas como mulheres a partir pratos. Parti um pela morte do meu pai, o único homem decente da minha vida; um pelo Paulo, que me trocou pela lambisgóia da rua; um por mim, sem conseguir tomar as rédeas da minha vida…E o resto por todas os obstáculos da vida. Quando na cozinha já não havia nada para partir, sentei-me na cadeira do canto e olhei para a janela durante um tempo. No fundo não estava a olhar para lado nenhum. Estava a olhar para dentro de mim própria. Talvez…
Nesse momento lembrei-me de uma conversa que tive com o meu pai quando tinha 10 anos:
“Pai, e se eu não for ninguém na vida?”
“Vais ser”
“Não, pai, e se eu não for, ainda vais gostar de mim?”
“Tu vais ser alguém.”
“Como é que sabes, pai?”
“Eu sei. ”

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Marcas

Costumo dizer que há duas coisas com que não admito que as pessoas gozem: uma é a minha voz(ou timbre, se quiserem) e outra é o meu sotaque. Talvez porque já fiz as pazes comigo própria, com aquilo que sou, com as minhas marcas pessoais, ou as minhas "impressões digitais", se preferirem... E estes são dois bons exemplos daquilo que me distingue das outras pessoas: Por um lado, porque o timbre que se tem é uma coisa única, há em cada voz uma sonoridade distinta que faz com que uma música soe totalmente diferente cantada por duas vozes diferentes. Porque cada timbre, apesar de ter um corpo(que não é físico mas é perceptível), tem também uma alma: a nossa, o que pomos de nós numa música quando a interpretamos. Por outro lado, há também o meu sotaque, o meu pequeno dialecto, idiolecto até. No meu sotaque carrego o peso das minhas origens, as minhas raízes. No meu sotaque vive a minha terra, o meu B.I. linguístico. Mas porque não influenciamos o meio, o meio é que nos muda a nós, o sotaque sofre, inevitavelmente, flutuações. Mas continua a estar ali, diferente do sotaque do centro e do Sul assim como diferente do do Porto. Porque o meu sotaque é Barcelense. E estas são as minhas marcas, assim como as vejo. E como não sou mais especial do que este ou aquele, toda a gente tem as suas marcas, aquelas coisinhas que não somos só nós que temos mas que são diferentes das outras. Toda a gente deveria aprender a reconhecer as suas marcas e a valorizá-las. São as cores que damos ao mundo.

E pensando nisto, lembro-me do horror que me causou saber que íamos ter um novo acordo ortográfico, que a nossa língua, o português de Portugal, ia perder as suas marcas características. Sim, porque depois deste acordo já não há português de Portugal nem Português do Brasil nem Português de lado nenhum, há simplesmente Português. Pelo bem da globalização. Sim, até era capaz de concordar...É bom sermos reconhecidos no mundo, já que há quem não saiba, por esse mundo fora, reconhecer Portugal num mapa sem dizer que é Espanha...Sim, essas pessoas vão saber falar Português, sabem que se fala no Brasil e tudo, mas muitas acham que em Portugal se fala Espanhol...Falo por experiência...Mas vamos ficar contente por saber que o Português, que também vai ser nosso, igualzinho ao nosso, vai ser falado por esse mundo fora...Aquilo que vamos ter de esquecer é, no fundo, aquilo que nos distinguiu dos outros povos de língua Portuguesa, o nosso legado linguístico, a evolução da nossa língua no nosso território, tudo por um bem maior...Coisa pouca, não acham?:)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Saindo pela porta da esquina

Saindo pela porta da esquina,
de rompante,
entregando o sono e a noite
distante

feita ar,
a água do renascimento,
da loucura e do fogo,
a terra de amanhã

e voando sei de cor
esta certeza
esta luz que me esmaga a solidão
a subtileza do que sou

mar
mar
quero ir, quero ficar
quero ser e procurar
dentro de mim o que sou

e o que ficou
o que restou dos dias
que não quero
dos momentos de desespero
das dúvidas existênciais...

e o que hoje sou
e não conhecem
sempre pensaram que era uma chama
efémera e apagada
pensaram em mim e nada
e eu sonhei

o que hoje sou~
mais do que pensariam
fénix de fogo eterno
e as cinzas do meu passado
o fado que soube inverter

saindo pela porta da esquina
entrando na vida com o pé direito
não forçando a entrada
tenho chave...

domingo, 16 de março de 2008

Frase nº1: " Qual é o verdadeiro problema dos homens com as raparigas certas? é o facto de se meterem com elas pelas razões erradas".

Comentem:)

sábado, 15 de março de 2008

Dias Simplesmente Especiais

E há dias simplesmente especiais.
Dias em que nos levantamos com vontade de acordar, de domar o mundo, de sentir o sol, de sorrir...
E esses dias são especiais porque o são, por nenhum motivo e por todos, porque uma vozinha do outro lado diz que sente saudades, porque alguém elogia o nosso trabalho, porque conseguimos provocar admiração...Não sei...Por milhões de razões diferentes...
Esses dias são, fundamentalmente, especiais porque nos fazem acreditar em nós, no nosso valor, na vontade desmedida de ser melhor que sempre sentimos crescer lá no fundo e que, por várias vezes, pensámos estar perdida...Mas não está. Porque enquanto há vida há esperança. Porque sabemos o que somos e o que já conquistámos e tudo o que temos ainda para conquistar...
E voltamos a gostar de viver. Porque a vida sem vontade não tem sentido. O que nos move é a consciência do futuro e de um presente que é um caminho, uma passagem. Apreciamos a vida. Saboreamo-la. Temos vontade de a devorar...
E voltamos a acreditar. Porque em todas as vidas há dias especiais. Dias que aparecem do nada para nos dizer "olá". Dias que são como lembretes.
E sorrimos. Porque sabemos que a nossa vida nos há-de trazer muitos mais dias especiais e que os saberemos traduzir quando o momento vier...

Respiramos...

O alívio...

Afinal ainda estamos aqui.

terça-feira, 11 de março de 2008

E agora sei quem sou

Interdito,
O silêncio
As horas que se perdem por aí

Na minha cara
Há o vento
E as marcas de ti

Cada vez mais cansadas
As palavras não vêm
Vagabundas

Certas, Erradas
Sonhos e Bofetadas
Entregas Profundas

Sentidos alerta
A mão que me aperta
Sou eu

A dona do mundo
O embalo do berço
A dor do amor

Surgi de rompante
Outrora tão perto
Distante

Fiz-me à estrada sozinha
Fui deusa caída
Erguida

Ergui-me

E agora sei quem sou
Peaceful, Peaceful
Silently closing in

The Window, shattered,
Asks Where I´ve been

And I say it´s been a while
Since my hands would grow wild
with you...

Lying, Naked
Leading time astray
The window wide open
Am I to blame?

Am I the one
Who kept you held
Inside your dreams
Inside your shell?

Insecure, Insecure
You´re a poison, not a cure

But please depend on my smile
Just for a while

Days are turning greish red
Winter´s coming in my head
Will you please leave me alone
Say you don´t want to take me home

Insecure, Insecure
I´m not the one thing you know for sure
But do depend on my smile
A little while...

Please say you care.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Viver para ver

Fecho os olhos...

Sinto o cheiro do Mundo
O mundo lá fora
Que não pára

O mundo que me assombra
Com as suas perguntas
Com os seus desafios
Que me alicia...

Sinto o sangue correr
Na minha cabeça
Como o corropio das gentes
A rotação da terra...

E o grito aprisionado em mim
É de dúvida e adrenalina
E uma vontade imensa
De conhecer o futuro

(E o mundo que me chama
Que me provoca...)

E as raízes dissolvem-se
E as amarras desapertam-se
E o chão move-se
E eu, onde fico?

O mundo é tão grande
E se não encontrar o meu lugar?

Ficar? Ficar?
Ir? Voltar?

Simplesmente viver para ver

Coimbra já não existe por nós

Coimbra;
Este som breve que se torna distante
Tão perto e tão longe
Tão sóbria e errante

Uma sombra
Que ainda persigo
Que queria deixar
e não sei

Estar aqui
Estar ali
Estar onde sempre sonhei

Tanto faz...

Coimbra
É o nome
Que não volta atrás

É o espaço que existe
E que já se foi

Como um sonho que voou
Não ficou, não parou
Morreu...

Porque para nós existe um lugar chamado Coimbra
Mas Coimbra já não existe por nós

sábado, 1 de março de 2008

Há dias em que toda a gente pensa no futuro...Nesses dias acho que pensamos em mil e uma coisas e imaginamo-nos em mil e um cenários. Todos nos parecem idílicos. E igualmente difíceis de alcançar. Esses dias poderiam ser proveitosos se não desesperassemos por tudo aquilo que não temos. O que eu acho é que estes dias, se não servissem para mais nada, nos deveriam fazer pensar. Pensar naquilo tudo que a vida nos apresenta. No incrível e variado Menu que nos parece demasiado para a nossa bolsa...Mas que não tem forçosamente de ser...A vida não é como a comida e é-nos permitido ter mais olhos que barriga. Aliás, na vida, só vinga quem tem mais olhos que barriga...Porque é que não havemos de ser eternamente insatisfeitos? Se ainda não nos sentimos felizes é porque ainda temos de continuar à procura de alguma coisa...E não só procurar desesperadamente mudar como de facto fazê-lo...Ter coragem...Avançar...Eu às vezes sinto-me parada. Estagnada...Penso em tudo o que poderia (e teria capacidade de) fazer e olho para o que tenho e acho que não é nada...E tenho medo de não ter a coragem para avançar...Será que nas alturas cruciais vou ter coragem de me fazer ao mar sem pensar naquilo que se perde, pensando apenas naquilo que se ganha ao tentar? Não sei. Será que o que se ganha supera o que se perde? A verdade é que há coisas que não se têm de perder. Podemos procurar a mudança e mesmo assim não ter de cortar os laços que nos envolvem e nos fazem sentir vivos. Eu só quero saber para que lado fica o meu caminho...Então...Vou procurá-lo...Porque nunca é tarde para tentar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Coisas semelhantes a obstáculos

Eu costumava pensar que todas as coisas na vida tinham de acontecer rapidamente. Achava que era um desperdício viver sem me dedicar aos meus projectos, sem fazer somente aquilo para o que estava "predestinada". E sofria porque no caminho me apareciam muitas coisas semelhantes a obstáculos. E então eu pensava: meu Deus, só mais um bocadinho...E essas coisas semelhantes a obstáculos não paravam de me assombrar. E então eu não parava de sofrer e de me preocupar. Até que com a idade e o juízo me apercebi que essas "coisas semelhantes a obstáculos" não eram realmente obstáculos. Eram apenas marcos do meu caminho. Bandeirinhas a assinalar as etapas. Agora sei que todas essas coisas são importantes e que os meus projectos continuem lá, do outro lado da estrada, à espera de eu os merecer...E sabem que mais?:) Acho que cada vez mais os mereço porque cada vez mais sei quem sou e o que quero fazer.

Valorizem as "coisas semelhantes a obstáculos" no vosso caminho. Elas estão lá para vos lembrar que ainda falta um bocadinho para passar de nível:).

O que encontramos no caminho

Hoje apetece-me caminhar. Pegar nas malas e partir à procura do amanhã. Sem ter de pensar no agora, nas dificuldades que o tempo nos traz, sem reflectir...Só ir. E deixar para trás tudo aquilo que não interessa. Porque não nos alimentamos do passado mas de coisas reais, como o estranho ao nosso lado, o sol do meio dia, a estrada empoeirada...Não vejo no caminho buracos que tema. No tecido e nas cores dos dias não há ainda manchas deixadas pelo futuro. E é, portanto, para lá que me dirijo. Vou com passo acelerado, quase que voo, quase que sou empurrada pelo vento, arrastada...Mas a vontade de me mover depressa deixa-me extasiada. E o simples pensar no fim do caminho deixa-me com vontade de correr. E corro. E o meu coração acelera e cansa-se e diz-me, "vai devagar, só um bocadinho...". E eu volto a caminhar, um pouco lentamente, de passo suave a altruísta, deixo-me só afastar...E não olho para trás. Porque o que passou não me interessa. E o que me move é apenas a maravilhosa sensação de me dirigir a algum lugar. E assim vou, devagar. "Devagar se vai ao longe" e a sensação da espera enche-me os pulmões de ar puro e de alegria. Porque caminhando vou e sei que o caminho que faço é também aquilo que sou. E se eu sou o futuro então o que mais poderei querer ser?...

Ser quem?

Viajar perseguindo as palavras
Deixadas ao acaso num beco
Do destino
Disfarçar os olhos molhados e a
Tristeza a Certeza
de não saber só
de não ser
O que fazes faz de ti o que serás
Aquilo que foste, aquilo por que lutarás(?)
És só a vida És só o mar
Dependente do vento para navegar
Pra se deixar levar
Para re-criar o Tempo
Para re-inventar o luar
E a luz que se acende
Quando te queres apagar(?)
Deixa-te devorar
Por cada lugar que te encontra
Por cada lugar que te fotografa
Por cada lugar que faz de ti o seu lar
Deixa-te cair na beleza desta sublime
Incerteza
Deixa-te guiar por aquilo que soubeste agarrar
Envolve-te
Resolve-te
No meio da multidão és um sim e és o não
Separa os ventos da mudança e da agitação
do silêncio do simples olhar que risca
O céu, o relâmpago, a forma, o desejo
Não te esqueças
Daquilo que existe para ti.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Personagens 2

"Não deixa de ser engraçada a forma como às vezes nos relacionamos com os outros. Imagino que seja fácil para a maior parte das pessoas criar empatias, simpatias, laços...Para mim não é. Nunca foi. Às vezes imagino que ao falar com alguém vou desatar a gaguejar ou então perguntar uma coisa tão estúpida que vou fazer figura de parva...Então não falo. Para dizer a verdade acho que nunca fui de falar muito. Também não sei se alguém teria interesse em falar comigo por isso não me dou ao trabalho de tentar.









Não sou propriamente bonita e nem se pode dizer que seja interessante. Afinal, qual seria o interesse de uma rapariga que não consegue dizer duas palavras sem ficar vermelha como um tomate e sem começar a gaguejar porque tem medo de falar? Sinceramente, nenhum...E o pior é que eu sei disto tudo e não me dou ao trabalho de tentar mudar...Não me apetece...Mas porque é que eu mudaria? Para gostarem de mim? Sempre tive a teoria de que se ninguém gostasse de mim pelo que eu sou é porque não tinha de ser. E se ficar sozinha não me importa.









Na verdade o simples conceito de intimidade provoca-me arrepios. Não quero ninguém a entrar no meu espaço vital, a não me deixar respirar, a estar ali sempre, como uma sombra...Não quero. Mas confesso que gostava de ter mais amigos. Tenho alguns, sim, dois ou três, com quem posso conversar sem gaguejar e sem ficar vermelha. Porque os amigos respeitam o nosso espaço e não procuram intimidade. Os amigos vêem-nos como um ser humano completo, não nos dissecam em qualidades e defeitos...







Detesto quando os rapazes da minha turma me dizem que sou feia! Detesto e não é porque isso me magoe,porque não me magoa. Só que me irrita que digam isso quando nem sequer lhes dou importância, não falo com eles e a maior parte das vezes nem os vejo nos corredores. E se me apetecesse dizer que eram feios também dizia mas não é o tipo de coisa de que ocupe a minha existência. Por isso acho-os uma cambada de parvos. Confesso que se pudesse os mandava todos para a quinta dimensão...Mas como tenho mais que fazer da vida, a maior parte das vezes nem penso neles.







Mas o que mais me chateia é que achem que por não ser popular não seja feliz! Eu sou muito feliz! Hello! Será que é preciso ser o estereótipo de gaja boa para ser alguém na vida...Por favor...Será que essas pessoas são felizes só por serem o máximo para toda a gente? E para elas próprias, o que são? Lembro-me da Carla, uma colega do básico. Todos a consideravam muito boa e gira e essas coisas que os rapazes dizem. Ela não ligava a ninguém e, pelo contrário, detestava que a tratassem assim. Um dia disse-me que todos os rapazes com quem andava a consideravam burra porque nem se preocupavam em conhecê-la...Nem em andar com ela mais de duas semanas...Ela nem era burra, pelo contrário, era bastante esforçada. O único problema dela era deixar-se levar demais...









Os meus amigos são todos colegas da primária. São pessoas com quem me relaciono desde a idade da inocência e por isso são pessoas das quais realmente gosto. Falamos de tudo. Claro que acabamos por falar de relações e eles acham que eu devia ser mais relaxada, que devia estar mais aberta a novos conhecimentos, que me devia valorizar mais...Mas eu não me importo. E já lhes disse que não vou mudar por nada. Eles continuam a gostar de mim.





E assim passo os dias da minha adolescência, sem saber muito bem onde me colocar, diferente demais para caber no estereótipo de adolescente aceitável, igual demais para reconhecer marcas minhas na minha diferença...Acho que o mundo não me pede nada porque não tenho nada de novo para lhe dar.





Pensando bem, acho que teria razões de sobra para ser uma dessas adolescentes deprimidas por falta de compreensão e aceitação. Mas quem é que eles são para me oprimir? O que mais os chateia, a eles (a toda a gente perfeita deste mundo), é o facto de EU ser FELIZ, com todas as imperfeições que tenho, com as minhas diferenças, com tudo o que me faz estar "à margem" desta sociedade de aparências...E sou feliz porque sou eu própria, não sou uma cópia de ninguém...



E podem não acreditar, mas não há ninguém que eu inveje...Há raparigas da minha idade que olham para a televisão e fartam-se de dizer que queriam ser como esta ou como aquela, mas eu não queria ser ninguém senão eu...



A minha imagem não me preocupa.



No entanto, penso muito no meu futuro. Vejo-me a fazer alguma coisa grande mas ainda não sei o quê. Acho que tenho potencial para isso, seja o que for...

E vou avançando, pé ante pé, vou-me movendo no mundo sem saber bem como...Mas avanço. É verdade, avanço. E o importante é nunca parar de avançar...

Continua...

Andava impelida por um vento invisível e matreiro. Sentia cada passo como o rufar de mil tambores, como se um ritmo intoxicante a levasse para fora de si mesma Quase que voava. Não sabia para onde ia. Respirava. Inalava o ar à sua volta que quase a inebriava. E andava. Andava...Não sabia para onde ia porque nem pensava. Pairava. E não havia mais ninguém naquele mundo de calçadas portuguesas e de guitarras chorosas e vozes distantes...Aqueles que passavam não existiam. Nunca tinham existido, não eram ninguém. E ela levitava e ali mesmo ficava o instante paralelo que a puxava. E ela aceitava. E o tudo que se dava não chegava. Não cabia no momento certo que era a sua vida. Por isso andava. E não sabia que procurava um dia
que a isolava. E não sabia que quanto mais andava menos saía do lugar. Estava perdida. Perdida para todos para quem não era nada. Era apenas esse instante em que se perdia milhões de vezes. Inalava e o ar tornava-se pesado. Inalava e o esboço do sorriso que traçava não a deixava esquecer que todo o caminho que fez até ali a deixava mais longe de viver. A respiração ofegante e difícil, a falta de um lugar, a pressa de chegar, a pressa de não ter de ficar...

O que ela era não sei contar mas via que lhe era difícil controlar esses acessos, essas promessas de felicidade. Ela é cada esquina da nossa vida. Cada dificuldade, cada vício mal espantado...Ela é a parte obscura de nós. Ela é...alguém...ninguém...A sorte que não soubemos agarrar. Quando a virmos temos de lhe dizer para parar...

Andar impelida por um vento invisível e matreiro não a leva a lado nenhum.

Talvez o Vento Mude

Vejo a estrada que se estende à minha frente. Sinto na cara o calor do sol, este calor que me traz de volta as minhas certezas que tantas vezes se perdem no caminho. Respirar o brilho deste dia dá-me vontade de sorrir. Inspiro o calor até o sentir lá dentro, nos meus ossos. Rio-me
sozinha. O que é que isso os fará pensar? A mim faz-me pensar que tenho motivos para ser feliz. E mesmo quando o vento se levanta na estrada de poeira e me desgrenha o cabelo e me impede de andar, eu fico a pensar nesses dias descomplicados, com o calor do sol a bater-me na cara e com as certezas à flor da pele e volto a acreditar. E a estrada que se estende à minha frente volta a ter uma aura luminosa e o calor do verão volta a aquecer-me os ossos e volto a ser feliz.

Talvez o vento mude.
Talvez haja ainda um pedaço de sol.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Para Onde Vamos

Deixamo-nos levar pelo momento
Pela certeza que diz

Vai

E o caminho
(O outrora longo caminho)
Parece antever já o outro lado

Vai

E caminhamos
Sem saber bem para onde
E caminhamos
Porque temos pernas para andar
Caminhamos
Porque no nosso caminho
Ainda não encontramos
Um sítio bom para ficar

Pensamos um pouco:
Aquilo que somos transformou-se
numa cor, somos pássaros
Somos seres repletos de luz e de vento
somos as asas e a vontade
de crescer

Então ficamos calados...
...quietos...

Damo-nos ao vício da solidão

Crescemos?
Crescemos.

Mas ainda nos custa aprender a viver.

Cada lugar
(cada sombra desse mesmo lugar)
nos apresenta uma matiz diferente

Leve...
frágil...

Impossível de copiar
Marca d'á gua,
marca a mágoa
de não poder simplesmente FICAR

Voamos porque fomos feitos
para não nos darmos
completamente

Voamos e para onde vamos ainda
não está definido

Voamos, de cabeça nas nuvens,
nós vamos e não nos perturba
esta inquietante sensação de não pertencer

de querer
de não ter

Lá p´ra onde vamos,
onde é?

Não importa.
Não planeamos ficar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Liberdade

Coragem

Levantar âncoras e partir
Fugir?

Deixar-se levar pelo momento
Pela sensação de sentir o vento nos ossos
Deixar-se desprender de laços inconvenientes
Voar...

Entregar-se à vontade de engolir o mundo
Devagarinho
De lhe conhecer os sinais

Andar

Andar

Andar


Parar para pensar e
Continuar


Fundir-se com Chronos
Mastigá-lo suavemente
Senti-lo
nas entranhas
No mais fundo de nós
Não o temer


DEAMBULAR


Ser sozinho e não tremer
Não chorar
Não estreitar os lábios ao pensar num lugar


Deixar-se perder na noite
E quando a-manhã vier


Respirar


Respirar


Respirar fundo e continuar a caminhar

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Trecho de um sonho que tiveram

Cada folha era uma mão
Que se abria timidamente
Primeiro
Depois voraz como o vento
Sorria
E deixava-me presa no seu divagar

Eu achava que percebia de todas as coisas
Que me podia perder por momentos
E a seguir ser eu de novo

Não pensava no tempo que passava
No tanto que eu não dava
De mim

Deixava-me desfolhar
E as mãos fechadas
Que eram minhas
Não ficavam

Eu era a personagem deste sonho
Que embora alheio
Me deixava nas mãos a incerteza
De quem sou

Era eu um livro
Cujas páginas não se souberam ler

Era eu a imensa vontade
De crescer

Num sonho que tiveram
A impaciência e a ânsia de viver

domingo, 20 de janeiro de 2008

Personagens- 1

"And I´m divided between Penguins and Cats" Katie Melua, Belfast











Personagens, capítulo 1











"Eu pensava que as coisas iam ser mais fáceis depois de crescer. Que não ia ter amarras, que faria tudo aquilo que me apetecesse; eu julgava que ser adulto era aquilo que me faltava para ser feliz. E enganei-me. Meus amigos, sei que estão surpreendidos por me ouvirem dizer isto mas é v erdade. Enganei-me. Redondamente.





O meu sonho era viver do outro lado do mundo, do outro lado de tudo. Na verdade acho que pensava que o meu sonho era viver longe de tudo aquilo que conhecia. E achava que assim seria feliz.





Se isto era o meu sonho, então deixem que vos diga que o realizei. Agora se me perguntarem se por realizarmos os nossos sonhos somos pessoas mais felizes então...











É difícil. É difícil responder.











Afastei-me de casa aos 18 anos para viver em Nova Iorque. Por um sonho.





Afastei-me de tudo e concentrei-me apenas nesse sonho, na busca incessante e, por vezes, exaustiva da minha felicidade. Desfiz-me das amarras, acabei por me desfazer dos laços...É uma consequência natural...

Dos 18 anos até ontem, o dia em que fiz 30 anos, não voltei a saber dos meus pais. Não sentia necessidade de os procurar, de saber sequer se estavam bem. Andei absorto no meu mundo para lá de tudo, achava que eram eles que me impediam de crescer...De vez em quando sentia uma pontada forte no peito e (como não sou cardíaco) acho que era Saudade...Mas passava. Sempre passou. Era como um mal estar súbito que ia e vinha e que eu podia(pelo menos tentar) controlar.



Durante esses anos andei por aí. Às vezes a trabalhar em restaurantes, outras em bares,supermercados, em todos os sítios onde que me quisessem. Durante esses anos não fiz nada de especial da minha vida. Na verdade eu não tinha mais sonhos para além de sair, de fugir. Era assim que me imaginava sempre. A correr, de um lado para o outro, sem um porto seguro, sem casa, sem amigos, sem ninguém.



A FELICIDADE É PARA QUEM SE BASTA A SI PRÓPRIO



Lembrava-me dessa frase vezes sem conta e sabia que o filósofo, do qual não me lembrava do nome, tinha razão. E era nele que eu buscava a minha razão.



E talvez vocês não me entendam. Talvez não consigam perceber porque razão deixei de ver os meus pais durante 12 anos. Na verdade acho que é fácil de explicar: Nós não escolhemos os nossos pais. Por essa mesma razão não somos obrigados a gostar deles. Não sei se me faço entender mas é pelo mesmo motivo que nem sempre gostamos do nosso nariz. É nosso. Ponto final. Mas se nos perguntarem se o gostaríamos de trocar, muitos de nós diriam que sim.



E eu, se pudesse, tinha trocado de pais(talvez de nariz não, até gosto do meu, ajusta-se ao meu rosto).



E a verdade é que não podia trocar de pais. Troquei de cidade, de país, de vida, mas de pais não podia...



Talvez alguns de vós estejam a pensar que eu não sei o que digo.; que devemos gostar dos nossos pais; que gostariam de ter os vossos pais por perto e não têm, que se foram, que nunca cá estiveram, que é injusto alguém como eu, que sempre os teve, ter fugido para nunca mais os ver...



Talvez...



Talvez seja...



Não sei.



Se me perguntarem se faria o mesmo de novo então eu...





Acho que não...



Acho que...


Não sei...



Olhando para os meus pais assim de longe, da distância de 12 anos, acho que até me fizeram falta. Algumas vezes. Pelo menos algumas. Não me recordo bem de quais, mas acho que em algumas noites, quando me punha a chorar, a pensar no trabalho que tinha acabado de perder, nos amigos que não tinha, na falta de um lugar a que chamar meu...


E neles. Aquelas figuras austeras e carrancudas que sempre me fizeram sentir mais fraco do que aquilo que realmente era. Aqueles de quem eu me escondia no quarto com vergonha de dizer as notas no fim do semestre. Aquelas pessoas que me enterravam numa infância assustadoramente comprida, cheia de exigências e sermões e aulas de catequese.



Não. Pensando bem não sinto a falta disso..



Mas sim, sinto a falta de alguém que me abraçasse e dissesse que estava tudo bem, mesmo quando não estava.


Será que essa pessoa eram eles? Acho que não...Não é deles que sinto falta. ..Sinto falta daquilo que eles nunca foram. Talvez seja isso.



Acho que só vi a minha mãe sorrir duas vezes na vida. E nem sequer me lembro do porquê. Ou então foi só um sonho e a minha mãe nunca sorriu para mim.



Eles não me queriam. Afinal, para quê querer uns pais assim??


Se fosse assim tão fácil...


No outro dia, quando abri a caixa do correio e vi um selo de Portugal, acho que fiquei surpreendido. É que depois de tantos anos sem notícias desse pequeno canto do mundo, acho que até me esqueci de que realmente existia. Preferia pensar na minha praia de Porto Côvo como um sonho; a ilha do Pessegueiro, a música do Rui Veloso da qual ainda me recordava tão bem...Sonhava constantemente com estes lugares e, portanto, não era difícil que me parecesse um sonho...Depois a carta devolveu a todos estes lugares a sua realidade. Aterrei. Depois de 12 anos a flutuar, finalmente aterrei...Foi assustador, como se fosse a minha primeira aterragem, se eu fosse piloto...


Dizia:


Finalmente conseguimos descobrir-te. Não foi fácil. Não sei se te importa mas a tua mãe morreu e o teu pai está muito mal, queria ver-te. Caso consigas, vem a Portugal. A tua casa continua no mesmo sítio.


Tia Adélia.


E caí...Caí de tão alto que a minha cabeça às voltas e voltas continuava a cair sem nunca tocar no chão. A realidade encontrou-me.


Ainda com o cérebro a zumbir subi as escadas do meu apartamento. Deixei-me cair no sofá enquanto tentava assimilar a notícia. Sempre fugi dos meus pais e não queria que me encontrassem, acho que nem para dizer que estavam mortos...Achava que nunca receberia esta notícia...


Senti uma necessidade imensa de voltar a casa. Áquela planície solarenga. Revi o tempo a passar por mim sem nada para me dar. Decidi voltar.


Reuni as coisas mais importantes, objectos adquiridos ao longo dos 12 anos, não muitos. Peguei em tudo e fui directo ao aeroporto.


Nesses 12 anos tinha ganho algum dinheiro, que usei para comprar a passagem.

Portugal. Tudo diferente e tudo igual. As pessoas a correr, como em todo o lado. À toa. Lisboa. Cidade luminosa, afagou-me o rosto habituado ao anonimato com sorrisos. Sorrisos vindos de lado nenhum. As pessoas a passar por mim e a sorrir. O sentimento de pertencer. Parece que estou em casa.

Mas não.

Até ao Alentejo são umas horas de caminho. E à espera, um pai doente, e a memória de uma mãe perdida, uma mãe que eu não quis...Sentimentos estranhos dentro de mim. Misturas de sentimentos. Esboços. Porque na verdade não sei o que sinto.

A tia Adélia com um sorriso choroso para mim. Um abraço que não me lembrava de já ter sentido. A distância que nos faz diferentes. Parece que me mudou. E de repente mudou tudo comigo...

"Filho...

O meu filho

Tenho o meu filho comigo..."

"Pai, eu..."

"Não digas nada. Aceitámos a tua escolha. Só que nunca nos esquecemos de ti..."

"Como é que está, pai?"

"Não vou sobreviver..."

"Não diga isso..."

"Não quero...A tua mãe morreu...O amor da minha vida...morreu...Só queria dizer-te adeus...Acreditas? Fiz-te vir de tão longe porque precisava de te dizer adeus..."

"Pai..."

Fechou os olhos e suspirou. E foi a última vez que vi o meu pai com vida.

continua...




Leave the Moon in my Hands

Leave the moon in my hands just a little while Then take it away You make me nervous And insecure But you see?...You make me stay And I dont know if its your fault Or mine Or the moon`s But I just had`to have you to lose you again And that was not my plan Oh, you make me confuse Cause I don`t know what you think About me or the moon Or about anything We are different as red and light blue And I just thought I could be different with you But time is just a glimpse of myself Trying to run away Not from you, from somebody else From the idea of you that I created But never thought I could possibly have I guess I`m just scared Cause you remind me too much the one I was looking for

Sobre mim

Me
Ordinary me
An ordinary girl
Always trying to be

Lost
Lost inside of me
The pieces of a dream

I always thought I could see

Somehow
The wind blows
It still does
I am leaving this world behind
But I can´t
(I still can, I thought I could)
It is you holding me back

I am still here
(Am I?) I thought I was
Just an ordinary person
Trying to be
To be, but to be is to see
That you lost yourself on the way

I won´t let go
I won´t. I won´t stray
From my way
I found me inside it one day

It´s my life
Not some game I play
I can´t just leave it
And wait for a sunny day

I´m sorry
It´s my way
It has always been my way
Not only today
Always...

I guess that you are still trying to know more about me...

What can I say?
Despite everything
I need you to stay... (Journal)

O lado de lá da Porta

Entramos devagarinho
Vamos abrindo a porta

Pé ante pé

Movidos pela imensa CURIOSIDADE
de Ser

Entramos sem medo do que virá a seguir
Se vier que venha

Dizemos mas...

Somos embalados pela ameaça
Do desconhecido
Vivemos
com a ameaça

Do lado de lá da porta

Sabemos

Não há abrigo

E o que é que fazemos?

paramos?
fugimos?

NÃO!!!

Somos impelidos a deixar-nos levar
pelo momento
incerto que nos diz

Do lado de lá está a nossa certeza

(E assim, meus amigos, não tenham medo de arriscar. Nunca tenham medo de arriscar. Porque o outro lado da porta existe para o conhecermos. Porque o maior medo que devemos ter é o de nunca saber.) (Journal, 7 Outubro 2007)

Pés no caminho

Eu sabia o que era.
Movia-me numa esfera, redonda, andava...
Não ia a lado nenhum...

Esforcei-me por caminhar junto à margem
Sem sair
Da margem
Sem cair
em Desgraça

Deixei-me levar pelo embalo da corrente

Fechei os olhos
E deixei que me conduzissem
Eu não sabia para onde
Ia

Ia

Mas não sabia o que havia do outro lado

E nem tinha curiosidade
Tinha medo
E o medo movia-me com pressa

Mas não ia para lado
nenhum

Parei.
Sentei-me e disse: Não vou!!!!

E chorei

Mas não me levantei porque aquela margem não era minha

Disseram-me que me perdia

E eu sorria

Porque por uma vez na vida sabia o que me ia acontecer

E o medo já não me conduzia.
Era levada pela vontade imensa
de Saber

Saber quem eu sou
Esquecer quem eu sou
no mundo que criaram para mim

Espreitar para lá da margem
Ir em frente
Sempre em frente

Pés no caminho

Uma linha
Não esfera

Vou para longe
Vou-me encontrar

Há dias assim:)

Há alturas em que acordamos com vontade de mudar o mundo:) E nessas alturas pelo menos o nosso mundo podemos(tentar)mudar, não é? Não importa se a mudança vem através da certeza de que precisamos de mudar de trabalho, de cidade, enfim, de vida. Nessas alturas lembramo-nos que os nossos projectos continuam a existir e estão só adormecidos, acomodados, desmaiados, se quiserem...E o importante é que consigamos pegar neles e ressuscitá-los.
Então, nesses dias, é bom que pensemos que um dia faz toda a diferença. Se é para descobrir que afinal ainda podemos sentir-nos felizes, porque não agora?

Hey, agarrem esses projectos pendentes e mostrem o que valem!! Que eles pensem que vocês já não vão a lado nenhum, não gosto, mas aceito...Agora vocês próprios??? Vocês que sempre souberam o que queriam, desistir agora????

Não!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A felicidade não existe, sabem?? Somos nós que a fazemos. Nos momentos em que a procuramos!!!

Toca a mexer, amigos:)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A Cor dos Nossos Dias

Quem é que sabe de que cor são os nossos dias?

Talvez ninguém.

Porque se nós próprios não sabemos então torna-se difícil para o resto dos comuns mortais.



Mas é verdade que cada dia tem uma cor. Pensem bem: Há dias alegres e azuis, há dias cinzentos, negros, e há até dias garridos, vermelhos e excitantes. E somos nós que os pintamos.



Procurem fazer dos vossos dias, dias coloridos.

As vossas cores vão sobressair.

Porque as nossas cores são as cores destes dias, que não têm de se seguir, cinzentos e iguais...