quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Andava impelida por um vento invisível e matreiro. Sentia cada passo como o rufar de mil tambores, como se um ritmo intoxicante a levasse para fora de si mesma Quase que voava. Não sabia para onde ia. Respirava. Inalava o ar à sua volta que quase a inebriava. E andava. Andava...Não sabia para onde ia porque nem pensava. Pairava. E não havia mais ninguém naquele mundo de calçadas portuguesas e de guitarras chorosas e vozes distantes...Aqueles que passavam não existiam. Nunca tinham existido, não eram ninguém. E ela levitava e ali mesmo ficava o instante paralelo que a puxava. E ela aceitava. E o tudo que se dava não chegava. Não cabia no momento certo que era a sua vida. Por isso andava. E não sabia que procurava um dia
que a isolava. E não sabia que quanto mais andava menos saía do lugar. Estava perdida. Perdida para todos para quem não era nada. Era apenas esse instante em que se perdia milhões de vezes. Inalava e o ar tornava-se pesado. Inalava e o esboço do sorriso que traçava não a deixava esquecer que todo o caminho que fez até ali a deixava mais longe de viver. A respiração ofegante e difícil, a falta de um lugar, a pressa de chegar, a pressa de não ter de ficar...

O que ela era não sei contar mas via que lhe era difícil controlar esses acessos, essas promessas de felicidade. Ela é cada esquina da nossa vida. Cada dificuldade, cada vício mal espantado...Ela é a parte obscura de nós. Ela é...alguém...ninguém...A sorte que não soubemos agarrar. Quando a virmos temos de lhe dizer para parar...

Andar impelida por um vento invisível e matreiro não a leva a lado nenhum.

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